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O FeLV(Vírus da Leucemia Felina) e o FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) estão entre os causadores de doenças infecciosas mais comuns em gatos. São causadas por 2 diferentes tipos de retrovírus, pertencentes ao gênero dos Oncornavírus (FeLV) e ao gênero dos Lentivirus (FIV), sendo que o FIV pertence à mesma família do vírus causador da imunodeficiência humana (AIDS); o FIV é responsável apenas pela doença específica dos felinos, não existindo qualquer risco de infecção para o humano. São vírus frágeis e instáveis no meio ambiente, sendo facilmente inativados pelo calor ou por desinfetantes domésticos e detergentes comuns, sem necessidade de utilização do vazio sanitário prolongado.
A infecção por algum destes vírus compromete o sistema imunológico do animal hospedeiro, interferindo na sua capacidade de combater infecções, predispondo o organismo a uma variedade de doenças secundárias recidivantes ou persistentes.
O gato contrai o vírus da imunodeficiência felina através da saliva, quando é mordido ou arranhado por um gato infectado, ou através do contato sexual durante a cópula. As fêmeas podem transmitir o vírus aos filhotes por via transplacentária ou através da amamentação se forem infectadas antes da gestação.
Os sintomas da FIV na fase inicial caracterizam-se por febre, aumento dos gânglios linfáticos e aumento da susceptibilidade às infecções intestinais e cutâneas por um período de 4 a 6 semanas após o contagio. Animais jovens ou com um sistema imunológico competente podem apresentar uma fase latente ou subclínica na qual não se observam sinais da doença durante anos. Com o passar do tempo e o avanço da idade os gatos contaminados tendem a apresentar um severo comprometimento do seu sistema imunológico tornando-se susceptíveis a uma grande variedade de infecções crônicas.
FeLV
O vírus causador da leucemia viral felina pode ser transmitido através da saliva, secreções nasais e lacrimais, urina e fezes de gatos portadores. Um gato saudável pode se infectar após lambedura mútua com outro doente ou através de fômites. Os filhotes de gatas infectadas também podem nascer infectados por meio de contaminação transplacentária ou adquirir o vírus durante a amamentação. Cerca de 80% dos filhotes que adquirem o vírus nestas condições morrem na fase fetal ou neonatal, e os que resistem podem manter-se em viremia persistente.
Após a infecção por
FeLV, gatos com o sistema imunológico competente podem combater e eliminar o vírus no estágio inicial. Já os animais com o sistema imunológico debilitado permanecem contaminados, dando origem a diversas complicações sistêmicas, como infecções secundárias, alterações hematológicas e até neoplasias.
A evolução da doença pode ser classificada em categorias de acordo com a característica da patogenia:
- Regressiva (viremia transitória ou latente): devido a uma resposta imune eficiente, observado em 30% dos gatos sadios expostos ao FeLV. Podem apresentar testes positivos na fase inicial, mas tornam-se negativos posteriormente, pois o organismo neutraliza o vírus;
- Progressiva (viremia persistente): devido à falha no desenvolvimento de uma resposta imune efetiva. Geralmente estes animais desenvolvem sintomas e apresentam testes positivos;
- Latência: o vírus sai da circulação sanguínea, porém permanece seqüestrado na medula óseea, replicando-se sem deixar as células, podendo ser responsáveis pelo desenvolvimento de anemias e neoplasias. Podem apresentar testes sorológicos negativos;
Gatos portadores assintomáticos e aparentemente saudáveis podem transmitir FIV e FeLV por não apresentarem sinais clínicos da doença durante semanas, meses ou até mesmo anos após o contágio inicial, tornando-se fontes potencialmente contagiantes para outros indivíduos contactantes.
Sinais Clínicos:
Dentre os sinais clínicos mais comuns observados na FIV e FeLV podem ser citados:
- anorexia
- depressão
- perda de peso/caquexia
- alterações comportamentais
FIV
Os sinais clínicos da FIV podem apresentar 5 estágios distintos:
- Fase aguda: inicia-se de 4-6 semanas pós infecção com desenvolvimento de febre, leucopenia, esplenomegalia e hepatomegalia. Cerca de 4 meses pós infecção pode ser encontrada hipergamaglobunemia devido ativação policlonal inespecífica dos linfócitos B. Os anticorpos contra FIV só começam a ser produzidos pelo sistema imunológico cerca de 3 a 6 semanas após o contágio e tornam-se detectáveis por teste a partir de 4 a 8 semanas;
- Fase subclínica: animal geralmente sem sintomas, podendo apresentar neutropenia e linfopenia;
- Fase clínica: gatos podem demonstrar linfoadenopatia generalizada, febre, inapetência e perda de peso;
- Fase crônica: com manifestações secundárias, como o desenvolvimento de lesões em cavidade oral, infecção no trato respiratório, febre, diarréia, alterações hematológicas (anemia, linfopenia, neutropenia e trombocitopenia), neoplasias e alterações neurológicas;
- Fase terminal: devido à extrema debilidade do organismo, não têm controle sobre as infecções secundárias e podem desenvolver doenças sistêmicas severas (falência renal, hepática, pancreática ou linfoma);
FeLV
Os sinais clínicos estão associados às infecções secundárias e à imunossupressão como:
- Halitose devido a gengivites ou estomatites
- Dermatites recorrentes e abscessos
- Otites
- Infecções das vias aéreas
- Enterites
- Anemia não regenerativa
- Leucopenia com neutropenia, linfopenia e trombocitopenia ou leucocitose por linfocitose
- Linfoma
- Fibrossarcoma
- Doenças mieloproliferativas
Diagnóstico:
Exames laboratoriais complementares que auxiliam o veterinário no diagnóstico da suspeita clínica de FIV e FeLV como:
- Hemograma Completo: para avaliação das desordens hematológicas;
- Eletroforese de Proteínas: para o estudo da resposta imunológica;
- Análise Citológica de Linfonodos, aumento de volumes e líquidos cavitários: para identificação de atividade linfocitária e desenvolvimento de neoplasias;
- Citologia de Medula óssea: para caracterização de doenças mieloproliferativas;
- Ultrassonografia Abdominal: para identificação de linfoadenomegalia interna, hepatomegalia e esplenomegalia;
- Testes Sorológicos: qualitativos ou confirmatórios, através de diferentes técnicas (ELISA, RIFI, PCR, Western Blot) a partir de amostras sanguíneas para a detecção de anticorpos contra FIV e do vírus da FeLV.
Como proceder para a interpretação dos testes sorológicos:
Devido aos diferentes estágios de desenvolvimento da doença, é possível obterem-se resultados divergentes com a situação clínica do paciente. Para correta interpretação dos testes algumas condições devem ser consideradas:
Elisa Negativo:
- infecção pré-aguda
- Infecção regressiva
- ausência de infecção
Caso persista a suspeita da doença, recomenda-se a repetição do teste com intervalo de 4 a 6 semanas.
Elisa Positivo:
- Animais sintomáticos: infecção persistente.
- Possibilidade de resultado falso positivo (FeLV) em animais que tiveram contato recente com o vírus (viremia transitória).
- Sem sinais clínicos: recomenda-se reavaliação sorológica após 6 a 8 semanas para caracterização de infecção regressiva.
Prevenção e Controle
A forma mais eficaz de impedir a disseminação dessas doenças inicia-se com um diagnóstico confiável, devido às diferentes síndromes clínicas. Os animais positivos devem permanecer reclusos e separados dos animais sadios, a fim de se evitar a exposição e propagação dos agentes infecciosos através das secreções.

A peritonite infecciosa felina (PIF) é uma doença viral, de caráter imunomediado, causada por uma variante mutante do coronavírus entérico felino (RNA vírus), que acomete os gatos domésticos e felinos selvagens como leões e leopardos. O agente é sensível a detergentes e desinfetantes comuns e resiste no ambiente por semanas. Pode ser transmitido por via transplacentária ou através do contato direto e contínuo de secreções orais e respiratórias. A eliminação do vírus se dá pela saliva, urina e fezes.



Alguns fatores são predisponentes como:

- faixa etária (animais de 6 meses a 2 anos de idade e gatos idosos);
- predisposição racial (persa, abssínio, bengal, birmanês, himalaio);
- superpopulação em gatis e abrigos;
- desnutrição;
- doenças infecciosas crônicas e concomitantes como FeLV e FIV;
- o uso de fármacos imunossupressores.

O período de incubação é indeterminado podendo ser de semanas a meses.
Por se tratar de uma doença imunomediada, o animal infectado pode desenvolver a doença quando possuir uma imunidade celular parcial (PIF seca) ou fraca (PIF efusiva).



Na PIF efusiva a evolução ocorre de 2 a 6 semanas após o aparecimento dos sintomas que incluem:

- febre, apatia e anorexia;
- aumento do volume abdominal (ascite);
- efusão torácica e/ou pericárdica;
- dispnéia, taquipnéia e cianose;
- perda de peso;
- icterícia;
- linfoadenomegalia mesentérica.



Já na forma não efusiva (seca) a evolução da doença é lenta e os sintomas são:

- febre, apatia e anorexia;
- perda de peso;
- uveíte;
- icterícia;
- linfoadenomegalia;
- alterações no sistema nervoso central (SNC).



O presunção diagnóstica baseia-se nos sintomas, histórico e nos achados clínicos e laboratoriais. O diagnóstico definitivo só pode ser feita através da análise histopatológica e/ou imunohistoquímica de tecido do animal acometido. Alguns exames disponíveis podem auxiliar ao clínico veterinário no diagnóstico da doença:

- Bioquímica de proteínas totais: em 55% dos casos de PIF efusiva e 70% da seca os animais apresentam proteínas totais > 7,8 g/dL e hiperglobulinemia > 4,6 g/dL das frações alfa, beta e gama. Este teste apresenta baixa sensibilidade e especificidade, podendo ser interpretado e confundido com outras doenças infecciosas e inflamatórias.

- Ultrassonografia abdominal: este exame auxilia na avaliação dos linfonodos e efusão peritoneal, mas não pode ser utilizado como único método diagnóstico para a PIF.

- RX de tórax: avaliação de efusão de tórax e pericárdica.
O  Perfil Derrame Peritoneal que realiza 2 exames: a eletroforese de proteínas séricas e análise citológica de efusão peritoneal ou torácica.

- Análise Citológica de Efusão Peritoneal ou Torácica: na PIF o líquido normalmente possui coloração palha a amarelo citrino, com presença de fibrina, macrófagos e leucócitos, possui uma proteína elevada (em torno de 5 a 8 g/dL) e relação albunima/globulina < 0,81 g/dL.

- Eletroforese de Proteínas séricas: neste teste de triagem os animais com PIF podem apresentar a fração Gama mais elevada em relação às outras proteínas.

- E.L.I.S.A. Cinético (KELA) para diagnóstico de PIF (Coronavírus Felino): Teste padronizado e calibrado por apresentar resultados semelhantes ao teste de Imunofluorescência Indireta (IFA), podendo considerar os títulos Kela “IFA-equivalentes”. Títulos 1:8 são considerados positivos.
O título positivo para PIF não pode ser considerado como forma de diagnóstico definitivo para a doença, pois detecta a presença de anticorpos contra qualquer tipo de coronavirus em geral, devendo o diagnóstico, portanto estar associado a sinais clínicos e outros achados laboratoriais compatíveis com a patologia da doença.



O teste negativo em um gato clinicamente normal pode ser bastante significativo, pois indica que não houve exposição à infecção da PIF, e não há anticorpos contra nenhum dos coronavírus. Uma pequena porcentagem de animais com PIF clínica ou confirmada pela necropsia pode apresentar títulos baixos ou até mesmo negativos. Este fenômeno pode ocorrer pela exaustão do sistema imunológico que não consegue produzir anticorpos em antígenos virais circulantes, não sendo assim detectados.



A vacinação recente ou episódios de febre podem causar um efeito imunológico secundário mascarando parcialmente a verdadeira titulação de anticorpos. Sugere-se então, a repetição do exame em um período de 6 a 8 semanas para confirmação.

O teste ELISA é realizado através de amostra de soro sangüíneo e seu resultado liberado no prazo máximo de 30 dias.

- Diagnóstico de PCR através do RNAm: esta técnica moderna é altamente sensível e específico, pois também identifica gatos assintomáticos e confirma o diagnóstico de PIF, pois possui a vantagem de ser um marcador da replicação viral na amostra testada (sangue ou efusões cavitárias).


Devido à alta taxa de mortalidade (podendo chegar a 100%), o manejo de gatis com medidas sanitárias adequadas se faz necessário para evitar a disseminação da doença.

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